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quarta-feira, 26 de maio de 2010

A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE SEGUNDO O BEHAVIORISMO RADICAL

     A visão do behaviorismo radical mostra similaridades acentuadas com o modelo interpessoal. Ambos rejeitam a existência de um "eu" interior que dirige a ação do outro. Reagem contra o pressuposto de que a personalidade é um "eu" que é responsável pela ocorrência de comportamentos (Skinner, 1998). Em uma linguagem behaviorista radical, pode-se definir o eu como um conjunto de respostas funcionalmente unificado, sendo que o importante é explicar a unidade funcional desse conjuntio estabelecendo as relações existentes entre estas respostas e suas variáveis de controle - estímulos discriminativos e consequências - (Ana Carolina Aquino de Sousa & Luc Vandenberghe, Interação em Psicologia, Curitiba, jul./dez. 2005, (9) 2, p. 381-390).
     Personalidade consiste no repertório comportamental de cada um e este é multideterminado. Skinner (1998) apontava a importância de entender os três níveis de seleção do comportamento: filogênese, ontogênse e a cultura. Esses três fatores se combinam e interagem durante toda a vida formando o que chamamos de personalidade. Ao nascer, apresentamos comportamentos inatos (reflexos). Mas desde o momento inicial as contingências começam a influenciar a probabilidade futura dos nossos comportamentos.
      podemos observar isso já nas primeiras interações de uma mãe com o seu bebê. Se a mãe espera a criança chorar para dar-lhe alimento, esta aprenderá que com o choro ganha comida. Entretanto, se a mãe a amamenta antes que chore, imaginando que pode estar com fome, o que a criança aprenderá será muito diferente - o alimento será, neste caso, contingente aos comportamentos que para a mãe são dicas de que o bebê está ou não com fome.
     Falar em personalidade significa apontar uma tendência a se comportar de uma dada maneira em função de uma história passada de reforço, que é individual. Refere-se, portanto, a um conjunto de comportamentos que ocorrem de forma consistente em muitas situações. Estes padrões são resultantes de um ambiente com contingências consistentes ao longo do tempo. Os pais, por exemplo, não mudam radicalmente na maneira de lidar com os filhos no dia-dia. A cultura valoriza e promove padrões rijos de comportamento porque é útil para predizer como vão se comportar e facilita a manutenção do funcionamento da sociedade. Há, entretanto, aquelas pessoas que adquirem padrões que não são adequadas do ponto de vista da cultura e que, por isso, podem ser transtornos de personalidade (Parker, Bolling, & Kohlenberg, 1998).


O QUE DIZEM AS PESQUISAS RECENTES

     Embora a causa do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) não seja conhecida, tanto fatores genéticos quanto comportamentais são considerados como contribuintes para predispor os pacientes a sintomas e traços do transtorno. Estudos têm mostrado que muitos indivíduos bordelines, porém não todos eles, relatam uma história de violência, negligência ou separação quando crianças pequenas. De 40 a 71% dos pacientes com TPB contam terem sido vítimas de abuso sexual, geralmente por um não prestador de cuidados.
     Pesquisadores acham que o TPB decorre de uma combinação de vulnerabilidade individual ao estresse ambiental, negligência ou violência quando crianças pequenas e uma série de eventos que desencadeiam o aparecimento do transtorno quando adultos jovens. Os adultos com TPB também tem uma probabilidade de consideravelmente maior de serem vítimas de violência, incluindo estupro e outros crimes. Isso decorre tanto de ambientes prejudiciais como de impulsividade e mau julgamento ao escolher parceiros e estilos de vida.
     A pesquisa em neurociência financiada pelo NIMH (National Institute of Mental Health) está revelando mecanismos cerebrais subjacentes à impulsividade, instabilidade do humor, agressividade, raiva e emoção negativa vistas no TPB. Os estudos sugerem que as pessoas predispostas à agressividade impulsiva tem um distúrbio da regulação dos circuitos neurais que modulam a emoção. A amígdala, uma pequena estrutura amendoada profundamente no interior do cérebro, é um componente importante do circuito que regula a emoção negativa. em resposta a sinais de outros centros cerebrais indicando uma ameaça percebida, ela evoca medo acentuados sob a influência de drogas como álcool ou do estresse. Áreas na parte anterior do cérebro (área pré-frontal) atuam amortecendo a atividade desse circuito. Estudos recentes de aquisição de imagens cerebrais mostram que diferenças individuais na capacidade de ativar regiões do córtex cerebral pré-frontal consideradas como estando envolvidas na atividade inibitória predizem a capacidade de suprimir-se as emoções negativas.
      Serotonina, norepinefrina e acetilcolina estão entre os mensageiros químicos nesses circuitos que desempenham um papel na regulação das emoções, incluindo tristeza, raiva, ansiedade e irritabilidade. Drogas que estimulam a função da serotonina no cérebro podem melhorar os sintomas emocionais no TPB. Assim também, drogas estabilizadoras do humor que estimulam reconhecidamente a atividade do GABA, o principal neurotransmissor inibitório do cérebro, podem ajudar pessoas que apresentam oscilações do humor do tipo TPB. Essas vulnerabilidades de base cerebrais podem ser controladas com a ajuda de intervenções comportamentais e medicações a suscetibilidade ao diabetes ou à pressão alta.

Associação Brasileira de Psiquiatria

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